Em setembro, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) fez mudanças nas regras para cortes de geração eólica e solar, conhecidos pelo termo em inglês curtailment. Essas mudanças buscam distribuir melhor esses cortes, quando necessários, entre diferentes geradores e regiões, ajudando a aumentar a segurança do Sistema Interligado Nacional (SIN).

A princípio, essa nova metodologia foi aplicada no Rio Grande do Norte e no Ceará, onde os cortes de geração estavam sendo mais severos, chegando a 80% em alguns casos. Agora, o ONS está avaliando se essas mudanças realmente melhoram a distribuição dos cortes entre usinas, como prometido, e qual o impacto disso no Custo Marginal de Operação (CMO) — que é o custo necessário para gerar a próxima unidade de energia (geralmente 1 megawatt-hora) no sistema elétrico —, e no consequente despacho termelétrico, ou seja, ordem de ativação das usinas termelétricas para gerar energia.

Este aprimoramento traz um ganho para todo o sistema, pois, além de permitir que os grupos geradores produzam energia dentro da sua normalidade e sem cortes recorrentes, também atenua a volatilidade do CMO.

 

Mudança no método 

Antes, o ONS decidia os cortes com base no impacto que eles teriam ao aliviar o carregamento de linhas de transmissão e subestações da região, o chamado fator de sensibilidade. Mas, às vezes, cortar a geração de uma usina próxima acabava sobrecarregando outras linhas, gerando novos cortes.

Dessa forma, havia uma suspeita de que os cortes repetidos em certas regiões estavam forçando outras usinas a injetarem mais energia, o que causava sobrecarga em outras partes do sistema. 

Com a nova metodologia, o ONS considera um grupo maior de geradores para distribuir melhor esses cortes, mas ainda levando em conta o fator de sensibilidade. O objetivo é garantir a segurança do sistema com o menor custo possível. 

Agora, o próximo passo é verificar se a mudança diversifica mesmo os cortes de forma  mais equilibrada, evitando que fiquem concentrados em um grupo ou região específica e, consequentemente, o sobrepreço e os gargalos de suprimento de energia. 

O momento para essa avaliação é bem propício, já que o nível dos reservatórios das hidrelétricas vem apresentando grandes variações nos últimos anos, o que aumenta o despacho de usinas termelétricas para atender a demanda de todo o país. 

 

E o que isso muda no seu dia a dia?

A nova regra de cortes na geração eólica e solar não afeta o seu consumo de energia, pois visa apenas atenuar a concentração dos cortes de geração em determinados grupos de geradores e regiões. 

Ao distribuir os cortes entre diferentes geradores, deixa-se de penalizar a operação comercial de grupos específicos de geradores. Essa distribuição diminui a pressão dos grupos geradores que podem buscar, judicialmente, ressarcimento financeiro pelo curtailment por meio do aumento da parcela da energia cortada que é coberta por encargos.

Esses encargos poderiam ser incorporados à revisão tarifária anual das distribuidoras, que é o momento em que as tarifas dos consumidores cativos são ajustadas para refletir os custos do setor. Ou seja, quanto maior a necessidade de cortes, maiores poderão ser os reajustes tarifários das distribuidoras. Isso poderá levar a aumentos na tarifa no próximo ciclo de reajustes, o que impactaria o bolso de todos os consumidores (cativos e livres) a médio prazo.